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Artigos-->MEMÓRIAS DE UMA MENINA NO CAFÉ AQUÁRIO -- 24/04/2024 - 19:00 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MEMÓRIAS DE UMA MENINA NO CAFÉ AQUÁRIO

 

L. C. Vinholes

24042024

 

 

Passaram-se muitos anos, muitas décadas até chegar o momento de tomar conhecimento do que está dentro de uma crônica, de uma menina, registrando o que guarda na sua memória dos momentos dos nossos encontros ocorridos em cada uma das minhas visitas à minha cidade natal.

 

Foram visitas esporádicas de quem deixou Pelotas sem nunca ter permitido que fosse cortado o cordão umbilical.

 

Foram visitas de quem esticou as léguas para chegar a viver o mais longe possível, no exato mais distante que até então se permitia. Mas se as distâncias aumentavam, aumentavam também os laços de união e de fraternidade entre os que ora estavam perto e ora estavam longe. Com algumas pessoas os laços foram sempre fortes e duradouros.

 

A crônica da “menininha”, parceira de tantas visitas, conta mais do que sou capaz de contar, dela gratuitamente me aposso, mas sem antes não deixar de chamar a atenção para uma diferença de grafia que, mais ou menos, mostra há quanto tempo ela ficou guardada pela sua autora: a segunda palavra do terceiro parágrafo da crônica em questão vem com o u em “freqüentado” encimado por um trema, sinal diacrítico que deixou de existir com a reforma ortográfica de janeiro de 2009. Aqui é permitido concluir que, sem dúvidas, a crônica é muito anterior a essa data, talvez nos primeiros anos da década de 1970 quando deixei Assunção e voltei para Tokyo.

 

Os parágrafos acima podem ser considerados adjetivos, razão pela qual, agora, neste artigo, se dá lugar ao que vale, à crônica “Memórias de uma menina no Café Aquário (Crônica do Tio)”.

 

“Eu era ainda uma menininha – não tinha mais do que oito ou nove anos. Lembro-me de ficar entusiasmada a cada visita dele. Ele vinha de longe. Eu sabia que era longa a viagem que o trazia a Pelotas. Sempre fui boa em geografia, e no mapa mundi eu localizava o lugar da sua moradia.

 

Sua chegada era motivo de imensa alegria. Reunida a família, nos contava as novidades, as suas peripécias, as curiosidades de uma vida em local distante e com cultura tão diferente da nossa. Cada vez que ele vinha nos visitar, eu era incumbida de acompanhá-lo. Fazia visitas aos seus antigos companheiros de colégio. Aos amigos de juventude. Àqueles que lhe eram próximos por questões profissionais. E tudo fazia com enorme prazer.

 

Contudo, eu também fazia minhas exigências durante essa marcha. A primeira delas, já em nossa primeira expedição ao centro de Pelotas, era tomar um cafezinho no Café Aquário – que eu conhecia como Café Nacional. Eu chamava atenção ali. Local, na época, freqüentado por homens adultos, uma menina, acompanhada de seu tio, era no mínimo estranho. Eu percebia isso. E me agradava experimentar aquela sensação de ser reparada por todos, de ser diferente.

 

Durante muito tempo guardei nas minhas “caixas” de memória as famosas “fichas” do Café Nacional. Elas eram conservadas para a próxima visita do tio, porque não dávamos conta de beber todos os cafés que comprávamos logo na nossa primeira ida ao Aquário. Coloridas, estiveram nos meus pertences por longos anos.

 

Mas não era só isso que eu exigia. No retorno para casa, a pé, caminhando pelas ruas de Pelotas, havia outra parada obrigatória: Padaria São João, na esquina da Quinze com Major Cícero. Ali, adquiríamos um saco de biscoitos “dentinho”, e vínhamos pela rua, a jogar conversa fora, nos deliciando com os tais biscoitos.

 

Sorte que a casa era distante, e a caminhada longa, o que nos permitia devorar todo o saco de bolachas.

Chegávamos à casa fartos.

 

Minhas jornadas com o tio querido não se resumiram a Pelotas. Tenho muitas lembranças de inúmeras viagens e passeios que juntos fizemos. E que certamente ainda faremos. Mas de todas as recordações, as que me são mais preciosas dizem dos cafezinhos do Aquário e dos dentinhos da São João.

 

Boas memórias essas. Elas são parte de uma Pelotas ainda presente, e de uma menina que certamente habita em mim”.

 

 

Apesar de serem muito os anos contados desde os encontros inesquecíveis com minha sobrinha, a “menininha de oito ou nove anos”, lembro-me perfeitamente de detalhe que me permito acrescentar nesta caixinha de memórias que vimos acima.

 

Certo dia, deixando a Praça Coronel Pedro Osório e caminhando pela Rua 15, encontramos a um dos mais lembrados colegas dos sete anos que frequentei o Colégio Gonzaga, colega estudioso de todas as matérias, mas especialmente à do inglês. Ao nos encontrar com ele no Café Nacional, a “menininha de oito ou nove anos” me faz uma advertência: “tio, este lugar aqui é só para homens, mulheres não entram”. Acolhi o que ouvira e, para tranquilizara respondi que ela estava acompanhada de dois homens e que cada uma ficaria em um dos seus lados e que, seguramente, nada aconteceria. Aqui a história mudou, o ambiente foi tranquilo, vieram as xicrinhas, o café foi apreciado e a lembrança, quem sabe, ajudou a escrever um pouco das linhas da crônica em questão. Registre-se que esse meu colega, esse guardião (sem saber) da “menininha de oito ou nove anos”, advogado, chegou a diretor da Faculdade de Direito de Pelotas profissão que ela veio a abraçar para, depois de formada na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas, fazer admirável carreira, sem nunca abandonar o espírito da “menininha” que fora.

 

Outras visitas, outras viagens foram muitas, que ficarão para outras crônicas que talvez venham a ser escritas em outras ocasiões, mas aqui reitero meus agradecimentos pela companhia que tive em tantos momentos que valem muito serem lembrados.

Comentarios

Maria do Carmo Maciel Di Primio  - 27/04/2024

Gostei muito de "Memórias de uma menina no Café Aquário"! Pessoas especiais sempre são marcantes em nosso imaginário infantil !!
Mas, o Café chamava-se "Aquário"ou "Nacional"? Fiquei curiosa, mulheres não podiam frequentar o Café Aquário ( Nacional)? Brasil, anos 70?
Somente no Cairo , anos 80, estive em um café onde mulheres só poderiam entrar em um local reservado devidamente acompanhadas do marido.

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